Abordaremos hoje um artista que
outrora teve importante mediatismo em Portugal, tendo realizado
inúmeras tornées no estrangeiro, ora acompanhado pelos seus
“Rapazes do Ritmo” ou mais tarde com a “Rapsódia Portuguesa”,
este último um grupo popular de expressão artística bastante
diversificada, conforme explicaremos adiante. Durante várias décadas
foi presença assídua em algumas das mais populares casas de fados
de Lisboa, embora tivesse sido, ironicamente numa boite que
permaneceu mais anos seguidos enquanto músico residente. Falamos,
naturalmente, de Bártolo Valença.
É difícil quantificar em qual
dos dois grupos acima referidos Bártolo Valença atingiu maior
notoriedade. Se no grupo popular “Rapsódia Portuguesa”, fundado
mais tarde, no qual conjugou as danças com o folclore, ou se nos
“Rapazes do Ritmo”, com o qual editou inúmeras gravações
comerciais e no qual se estreou (provavelmente) no início dos anos
50. No entanto, inclina-mo-nos para os Rapazes do Ritmo, designação
ligeiramente enganadora para os menos informados e que poderá
induzir em erro, na medida em que os Rapazes do Ritmo não eram
nenhum “conjunto de ritmo” ao jeito de Shegundo Galarza ou de
Mário Simões, mas antes um grupo que apresentava uma música
toponímica e popular-humorística, com recurso a instrumentos de
cariz tradicional.
No que à sua longa carreira diz
respeito, em poucas linhas, poderemos dizer que (ao contrário do
que se possa pensar) a mesma não teve o seu início na música e
que tampouco foi Bártolo Valença o fundador dos Rapazes do Ritmo.
Efectivamente, a sua tendência artística sempre foi para o
bailado, mas foi quando surgiu o convite para substituir o vocalista
original desse conjunto (cuja identidade desconhecemos) que surgiu
a sua grande oportunidade para singrar na vida artística, tendo
assumido as funções de coordenador do conjunto e de executante.
Depois de uma estreia num programa rádio publicitário, os Rapazes do
Ritmo alcançaram grande êxito durante mais de 7 anos consecutivos,
tendo o auge de popularidade sido atingido na década de 50 e apenas refreado quando Bártolo Valença, paralelamente com os Rapazes do
Ritmo, decide fundar a Rapsódia Portuguesa.
Sobre aquele aspecto, conforme
realçava o próprio artista, nunca houve realmente uma transformação
dos Rapazes do Ritmo em Rapsódia Portuguesa, na medida em que ambos
coexistiam, passando aqueles a fazer parte deste conjunto, numa
tentativa (conseguida) de divulgação do folclore português. “A
Rapsódia Portuguesa” era composta por 16 elementos, uma verdadeira
aguarela de danças e cantares da nossa terra, exigindo de todos um
grande esforço físico e artístico despendido por actuação,
combinado tradições do Ribatejo, fado bailado, bailinhos da
Madeira, cantares da Nazaré e de Trás-os-Montes, entre outras
evocações.
Foto da Rapsódia Portuguesa, com Bártolo Valença em primeiro plano. |
A longevidade de Bártolo Valença fazia, à data do seu eclipse, inveja a muitos outros artistas. De facto, manteve-se em cartaz, sem interrupção, desde 1956 pelo menos
até 1971 (cerca de 9 anos no Restaurante Faia e 7 anos no famoso
Maxime), apresentando, conforme se referiu, música vincadamente
portuguesa ou de características folclóricas, cantando, dançando,
representando, fazendo humor e apresentando o seu espectáculo em
vários idiomas. Bártolo considerava-se um verdadeiro animador (mais comummente, um show-man, ou M.C. - Mestre de cerimónias), o que efectivamente era, um verdadeiro homem-espectáculo, que
percorria o folclore do norte minhoto ao Algarve litoral, durante
cerca de 3 horas por noite nos seus espectáculos no Maxime.
A canção que escolhemos para hoje faz um resumo do ambiente do conjunto bem disposto, que eram os Rapazes do Ritmo e do espírito das suas canções: alegres, divertidas e populares. Não falta nesta recriação o zurrar do burro, a ovelha, a galinha, e muitos outros animais da quinta do Zé Tomás tão bem recriada neste curtos 3 minutos que hoje deixamos aos nossos leitores.
Clique no Play para ouvir um excerto da canção