Apresentaremos hoje um
nome totalmente obscuro da nossa música popular e cuja expressão
discográfica foi praticamente nula. Falamos de Eduardo Futry, ou
mais correctamente, Eduardo Futre, artista que atingiu grande
popularidade há muitas décadas atrás, principalmente no período
compreendido entre o final dos anos trinta e o ano de 1955 e cujo
nome foi acidentalmente recuperado em finais dos anos 70, ainda a
tempo da sua voz poder ficar registada numa gravação sonora.
O caso de Eduardo Futre
não é, no entanto, caso único no universo musical português.
Existiram muitos artistas que, não obstante a sua popularidade e
consagração, não gravaram qualquer disco ou qualquer canção (Um
dos casos mais flagrantes é a cançonetista Patrícia,
que chegou a ser capa de revistas e ter largos espaços em revistas
da época durante mais de duas décadas sem nunca ter gravado
qualquer disco. E muitos outros exemplos poderíamos deixar aqui
registados...). Naturalmente os tempos eram outros, não sendo demais
relembrar os jovens leitores que gravar comercialmente dois lados de
um disco de 78 rotações era um acontecimento muito raro para um
artista português, não estranhando, aliás, que a maior parte das
gravações de artistas portugueses eram efectuadas no estrangeiro.
Natural de
Setúbal, Eduardo Futre começou a cantar com apenas 17 anos, numa
sessão de fados no Solar da Alegria. Desde então a sua carreira não
mais parou, tendo tido relativo sucesso na época, à semelhança de
outros seus pares. Com efeito, Futre era também presença assídua
nos Serões da F.N.A.T. e em alguns espectáculos de variedades da
A.P.A, do qual chegou a ser artista privativo, tendo feito inúmeros
duetos com a célebre cançonetista da época Maria do Carmo. Actuou
ainda noutros espectáculos de variedades ao lado de artistas
consagrados da época, como Tony de Matos, Maria José Valério,
Eugénia Lima e Luis Piçarra, entre muitos outros.
Eduardo Futre, cerca de 1950 |
Paulatinamente,
o nome de Eduardo Futre foi desaparecendo das escaparates do mundo do
espectáculo, tendo também, à semelhança de muitos outros, saído
da então Metrópele para o Ultramar, onde foi animador privativo num
barco durante dois anos. Pouco tempo mais tarde,com o casamento e
posterior fixação de residência em Lourenço Marques, reduziu
drasticamente a sua actividade artística, empregando-se como
mecânico, afinador de máquinas, entre outros empregos
ocasionais. Porém, o abandono total da actividade artistica, foi algo
que nunca se verificou plenamente, nem mesmo quando andou pelo
estrangeiro até ao seu regresso a Portugal.
Foi aliás,
em finais dos anos 70, que a Editora PortugalCantante, sabendo do seu
regresso a Portugal, registou, aquelas que pensamos serem as únicas
gravações em disco de Eduardo Futre, anunciando Futre como o
regressado "cantor luso-brasileiro" (o que, conforme já
referimos, não corresponde à verdade, pois Eduardo Futre é
português).
Aquando da
gravação do seu primeiro disco, por certo já ninguém conhecia ou
se lembraria de Eduardo Futre, que um dia regressou a Portugal com a
ilusão de que seu nome ainda perdurava na memória colectiva dos
portugueses. Contudo, não terá sido, assim, cremos... O tempo dos
espectáculos radiofónicos já havia passado e as grandes orquestras
ao serviço da canção estavam então reduzidas a uma verdadeira
manta de retalhos. Ainda assim, Eduardo Futre teve a ousadia de
acreditar no relançamento da sua carreira, deixando para a história
da música gravada as gravações que hoje deixamos aos nossos
leitores.
Clique no Play para ouvir "Chuva vai, chuva vem"
Eduardo Futre - "Cantor Luso-Brasileiro"
Portugalcantante PCEP-027
Lado A1 - Compadre tá tudo certo (Eduardo Futry)
Lado A2 - Dez anos (D.R.)
Lado B1 - Chuva vai, chuva vem (Eduardo Futry)
Lado B2 - Porteira, suba e diga (D.R.)
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