Shegundo Galarza foi, sem sombra de dúvida, um dos músicos e maestros mais talentosos que alguma vez passou por Portugal. Radicado em terras lusas desde a década de 40, durante mais de seis décadas, lançou um infindável número de discos, ora em nome próprio, ora como arranjador de dezenas de músicos com os quais trabalhou, passando por todos géneros musicais, desde o clássico, o popular ao jazz. Ficaram célebres os famosos discos de Shegundo Galarza para a etiqueta “Estoril”, bem como outros tantos, que, mais à frente, na devida altura, abordaremos. Dos músicos com os quais trabalhou, uns são sobejamente conhecidos (tais como Amália Rodrigues, Tony de Matos, Maria da Fé ou José Cid) e outros, certamente menos conhecidos e que, nos tempos de hoje, deixaram de ter protagonismo e, quiçá, ficaram para sempre perdidos no esquecimento.
Cabe-nos hoje recuar um pouco no tempo, e no panorama musical português dos anos 60 e 70, altura em que a panóplia de estilos musicais florescia sem quaisquer reservas (embora com privilégio para o fado), para encontrarmos imensos discos de acordeonistas que, de uma forma mais ou menos conseguida (tais como Eugénia Lima, Filipe de Brito, Isidro Baptista, Tino Costa, Victor José, entre outros) atingiram algum sucesso nos meios mais populares e até a nivel de todo o território nacional.
Um dos acordeonistas que, infelizmente, não é conhecido (nem reconhecido) na actualidade é Fernando Martinho Cordeiro Ribeiro, mais conhecido pelo nome abreviado de Fernando Ribeiro que, para além de executante do acordeão, era também compositor e orquestrador, sendo um acordeonista virtuoso, que teve a honra, de tocar acompanhado pela secção de violinos dirigida pelo também virtuoso Shegundo Galarza. Através do disco que hoje apresentamos, assistimos a um encontro entre a música de raiz popular protagonizado por Fernando Ribeiro e a dimensão orquestral da música erudita. Dois estilos mas um resultado comum: Portugal popular elevado à grandeza orquestral.
Pretendemos de forma muito simples relembrar, por um lado, Shegundo Galarza (que toda a gente conhece) e, por outro lado, trazer à memória as nossas raízes populares interpretadas por Fernando Ribeiro (hoje um perfeito desconhecido). Aliás, não só se invocam as memórias das nossas raízes, através do som popular do acordeão, como também os próprios títulos das canções espelham aquilo que hoje se vai perdendo cada vez mais, tais como as desgarradas, os viras, as brincadeiras entre parreiras, os despiques algarvios, entre muitos outros...pesar do perfeito desconhecimento do virtuosismo das gravações de Fernando Ribeiro, este acordeonista gravou, desde 1946 para a frente, inúmeros discos, para diversas editoras nacionais e estrangeiras (como por exemplo, a Rapsódia, Estúdio, Belter, Alvorada ou Parlophone), acompanhado na grande maioria das vezes pela sua esposa, Fernanda Guerra, também acordeonista que conheçeu em 1948 e com a qual viria a casar em 1955. Curiosamente, foi a partir do casamento com Fernanda Guerra que o seu sucesso aumentou em grande parte devido ao Duo que entretanto criara com a sua esposa.
Principalmente desde a década de 60 para a frente para além das suas actuações a solo, acompanhou dezenas de artistas portugueses bem conhecidos, tais como Tony de Matos, Francisco José, Carlos do Carmo, entre muitos outros. O seu sucesso levou-o a conhecer meio mundo, tendo actuado em quase toda a Europa, E.U.A. Austrália, sem olvidarmos as nossas então províncias ultramarinas. Compôs centenas de obras para acordeão (desde o popular ao erudito) e para teatro de revista , onde, aliás, trabalhou entre 1987 e 1996, compositor , arranjador e ensaiador de actores no Teatro Maria Vitória, findando o duo que até então manteve com a sua esposa.
Mais um disco e um artista que aqui nos apraz, orgulhosamente, divulgar para que a sua memória musical perdure, pelo menos nos recônditos mundos da Internet. Qualquer informação adicional sobre este músico, pois a nossa resume-se ao disco que em questão, será sempre bem vinda, para aos poucos construirmos uma verdadeiro enciclopédia de ilustres desconhecidos portugueses.
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