segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Maria Amália - Tomem lá beijinhos

Por vezes, através dos textos que publicamos no Bairro do Vinil, temos conseguido entrar em contacto com diversas pessoas ligadas à vida artística que nos têm fornecido informações privilegiadas não só sobre si próprias como também sobre outros parceiros das lides musicais. De todos esses contactos que temos mantido nos últimos meses, há ainda alguns mistérios que conjuntamente continuamos a tentar desvendar. Há um caso que para nós era até há pouco tempo ainda um mistério na medida em que nem nós, nem a diversa gente ligada ao fado com quem temos contactado, conseguia descortinar quem tinha sido tal personagem. Falamos da fadista Maria Amália, uma fadista que na década de 50 gravou, pelo menos, 3 EP's para a popular editora Alvorada, num conjunto total de 12 fados, a sua grande maioria da dupla João Mateus Junior/ Walda Rodilles Mateus.

O mais curioso de tudo (e também o que mais nos intrigava) é o facto de pelo menos uma das suas criações ser um fado sobejamente conhecido no universo dos fadistas. O tema tem o sugestivo título de “Toma lá beijinhos” da autoria da dupla atrás referida, sendo o seu refrão cantarolado por muitos fadistas que, ainda que hoje não se recordem da letra completa mas que do seu refrão não se esquecem, conforme tivemos ocasião de constatar nas diversas conversas que mantivemos com alguns dos fadistas mais “antigos” sobre este assunto.
Acresce ainda referir (acentuando ainda mais o mistério sobre Maria Amália) que das 3 (bonitas) capas de discos que lhe conhecemos não consta qualquer fotografia da fadista. O mesmo se diga relativamente à contracapa. Por outro lado, de toda a imprensa da época à qual temos tido acesso não encontrámos ainda qualquer referência à fadista Maria Amália, embora tenhamos que admitir que no campo do fado nos faltam ainda muitas referências sobre as principais fontes de informação das épocas de 30 a 50 no que a este género diz respeito.
No entanto (como não desistimos facilmente nem à primeira nem à segunda tentativa) e como o nosso desejo em conhecer algo mais sobre esta fadista era realmente supremo, conseguimos apurar muito recentemente que Maria Amália terá abandonado a vida artística em 1960, altura em que emigrou para o Reino Unido, onde constituiu família juntamente com o seu marido, um cidadão nigeriano. Fruto desse casamento nasceram vários filhos, muitos deles hoje ligados à vida artística.
Maria Amália, nos anos 50
Infelizmente, a vida é madrasta e a morte é efectivamente a única certeza que conhecemos ao longo da vida. Quando há poucos dias conseguimos identificar e saber do paradeiro de Maria Amália estávamos longe de imaginar que ainda há cerca de dois, três anos (altura em que começámos a procurá-la) ainda se encontrava viva e de boa saúde. Contudo,  Maria Amália (ou Maria de Lourdes, seu possível verdadeiro nome) faleceu recentemente no primeiro trimestre de 2013, com a idade provável de 80 anos, uma vez que terá nascido entre 1932 e 1933. Não conseguimos, portanto, estabelecer contacto com esta artista, com muita pena nossa. De igual modo não lográmos ainda estabelecer contacto com os seus descendentes, algo que acreditamos estar para breve, não fosse o mundo cibernético uma aldeia cada vem mais global e pequena.
Sobre Maria Amália restam-nos, para já, apenas os discos, a sua voz e uma única foto que conseguimos recuperar. Devido à ausência de informação, abreviamos ao máximo este texto, na esperança de regressarmos em breve com mais informações, fruto da ajuda dos nossos leitores e quem sabe, dos familiares de Maria Amália. 


Para elas, principalmente, tomem lá beijinhos...

Maria de Pádua - Dobadoira / S. João das Orvalhadas

Apesar do mediatismo (e algum vedetismo) proporcionado pela imprensa social da época a alguns cançonetistas, nomeadamente a partir da criação do Centro de Preparação de Artistas de Rádio da Emissora Nacional, a grande verdade é que eram poucos aqueles que se dedicavam exclusivamente à vida artística, dela retirando o seu sustento. A grande maioria, mais não eram do que artistas amadores que em determinado momento gozaram de alguma popularidade, através de esporádicas aparições em programas de rádio e em alguns Serões para Trabalhadores e que rapidamente se desvaneciam no anonimato.
Como é fácil de compreender, tais artistas raras as vezes conseguiam conciliar a sua vida profissional com a vida artística. Os homens viam-na ser interrompida (muitas vezes para sempre) pela obrigatoriedade do cumprimento do serviço militar. No que às mulheres diz respeito, a vida artística, na maior parte dos casos, não passava de uma mera experiência de meninas que precedia a devoção à vida do lar antes do anunciado  fim do percurso artístico. Aliás, o casamento foi mesmo umas principais razões para que muitas artistas da Emissora Nacional tivessem abandonado ou optado por um rumo diferente e mais reservado na sua carreira. Dois exemplos supremos são, sem dúvida alguma, Maria de Fátima Bravo (cuja voz se imortalizou na canção “Vocês sabem lá”) e Júlia Barroso (uma das primeiras vedetas da rádio e a primeira rainha da Rádio, eleita pelos leitores da popular revista Flama) que muito cedo abdicaram das suas carreiras em favor do casamento. Outros exemplos poderíamos deixar aqui, mas reservaremos os outros para uma próxima mensagem, uma vez que a que temos em mente para hoje tem por objecto uma outra temática.


Conforme referimos, também houve casos em que nomes mais ou menos conhecidos da nossa rádio conseguiram conciliar a sua vida profissional com a vida artística, mantendo a estabilidade dos seus empregos ao mesmo tempo que seguiam cantando e gravando discos. Dois desses exemplos são Maria de Pádua e Almerinda Stella, as quais partilhavam ainda uma interessante coincidência: ambas eram funcionárias dos Correios e ambas gravaram vários discos, seja em formato 78 rpm, seja mais tarde em formato 45 rpm. Se relativamente a Almerinda Stella obtivemos já a informação de que faleceu recentemente, o mesmo já não poderemos dizer sobre Maria de Pádua, cujo paradeiro e informações biográficas continuam a ser um mistério, dada a quase ausência de registos escritos na imprensa da época sobre tal artista. Nem mesmo, através do contacto com alguns artistas da década de 40 e 50 lográmos obter qualquer informação sobre o paradeiro de Maria de Pádua.
Ainda assim, recolhemos algumas informações que partilhamos com os leitores mais interessados na esperança de obtermos um retorno de informações sobre esta artista que há cerca de 60 anos atrás gozou de alguma popularidade.
Maria de Pádua, à saída dos Correios em 1954.

Maria de Pádua estreou-se na Emissora Nacional, muito provavelmente em Novembro de 1951 no programa "Passatempo", tendo (já depois de tirar a carteira profissional no ano seguinte) continuado a vida artística até pelo menos 1954, altura em que (numa entrevista) confessara já estar desiludida com a vida artística, devido à falta de oportunidades. Contudo, nessa mesma entrevista, simultaneamente manifestava o seu desejo em “triunfar custasse o que custasse, para depois se retirar com satisfação de ter provado que possuía algum valor“. Ou seja, pelo que podemos perceber com tal afirmação, era bem provável que por essa altura o fim da carreira artística e discográfica de Maria de Pádua estivesse a atingir o seu limite, não sendo alheio o facto de não se lhe conhecer nenhuma nova gravação para o catálogo Alvorada durante toda a restante década de 50, senão a recuperação de números antigos anteriormente gravados em 78 rpm para a etiqueta Melodia (Dobadoira e Orvalhadas de S. João) mais tarde incluídos num EP daquela editora lançado para o mercado em 1959, juntamente com outras duas interpretações de Maria Amélia Canossa e do Conjunto de João Aleixo.
Facto digno de registo é que Maria de Pádua cantava também em francês e em italiano, tendo ainda no seu repertório números regionais, género do qual terá sido uma das primeiras intérpretes. Não obstante tal mediatismo, Maria de Pádua, sempre teve oposição da família quanto à sua intenção de prosseguir com a vida artística, sendo para nós uma incógnita qual o rumo que a sua carreira tomou após 1954. Terá abandonado por vontade própria, descontente com o panorama musical da época, face à emergência das primeiras vedetas da canção ? Terá casado ? Terá emigrado para África na companhia de um suposto marido ? Seria o nome de Mária de Pádua um nome meramente artístico, face à abundância de “Marias” na Emissora Nacional ? Não sabemos. Apenas sabemos que era funcionária dos CTT, conforme já referimos anteriormente, exercendo o seu posto na Praça dos Restauradores, em Lisboa. A respeito dos CTT não deixa de ser curioso também que também nesse ano, foi gravado ainda para a mesma editora um disco do Coral dos CTT. Teria Maria de Pádua pertencido ao Coral dos CTT ? No referido disco, como era hábito na altura, a ausência de informação era a regra geral e, para não fugir à regra nenhuma referência à composição do coro encontramos no referido disco, pelo que também essa pista pouco nos ajudará de futuro. Resta-nos, mais uma vez e como já vem sendo hábito, aguardar que algum leitor nos ajude a encontrar o paradeiro desta artista, cujos excertos de duas canções aqui deixamos aos nossos leitores.


Clique no Play para ouvir um excerto de "Dobadoira" e  "S. João das Orvalhadas"