domingo, 14 de março de 2010

ISILDA MARIA

Não somos do tempo de Isilda Maria e confessamos que dela nunca tínhamos ouvido falar até adquirirmos aquele que é provavelmente o seu único disco, editado a título póstumo, como forma de homenagem dos seus familiares após a sua prematura morte. As escassas informações que recolhemos sobre Isilda Maria constam todas na contracapa do disco pelo que, na ausência de mais informações, transcrevemos na íntegra o texto de homenagem de Manuel Moreno escreveu sobre a artista:

"Este disco é uma homenagem à popular artista angolana ISILDA MARIA. Muito jovem ainda, possuía uma voz extraordinariamente promissora e o futuro, indicava-lhe uma auspiciosa carreira artística. ISILDA MARIA tinha o jeito das grandes vedetas de revista , Angola admirou-a em diversas interpretações desde os espectáculos de Music-Hall ao teatro ligeiro, onde encabeçou os elencos mais aplaudidos que constituíram êxitos de bilheteira.
ISILDA cantava com o coração porque era essencialmente uma voz do povo. Amorosamente gaiata a sua azougada presença, enchia os palcos e quando a sua voz fresca e bonita se fazia ouvir era o delírio das plateias angolanas.
Não quis o destino que a sua radiosa figura de artista popular permanecesse viva fisicamente. Num dia cinzento, quando ISILDA MARIA seguia a bordo dum avião que a levaria, mais uma vez, a cantar para o seu inúmero publico que a aguardava no norte do Estado, um desastre, vitimou-a, levando-a deste mundo, compungindo o coração de todos os que a conheciam e admiravam.
Ficou a sua voz perpetuada neste disco que agora se entrega ao em quatro trechos musicais, que o seu incontestável talento de artista, valorizou e enriqueceu."



Nascida em Faro, em 4 de Fevereiro de 1948, Isilda Maria cedo foi para Luanda, juntamente com os seus país, tendo sido nessa cidade que se revelou em 1962, no programa "Gente Nova" de Manuel Moreno. Mais tarde, em 1963, com apenas 15 anos de idade, participou em "À sombra da bananeira" uma pioneira tentativa de teatro de revista em Angola, tendo ainda nesse ano, juntamente com outros artistas angolanos (como Sara Chaves e Minah Jardim) cantado para o Presidente da República de então numa festa de recepção ao chefe de Estado. Fez ainda parte do grupo de artistas "Isto é Portugal", que fizeram um tournée por terras de angola, de onde faziam parte, entre outros, Allia Clinton, Eduardo Santos e Anita Guerreiro (sua grande influência). Isilda Maria terá falecido (em data que ainda não conseguimos apurar)  pouco tempo antes transpor para disco a sua voz e que, muito provavelmente as suas gravações privadas terão sido aproveitadas pelos familiares para a edição deste E.P., uma vez que duas das canções são, inclusivamente, gravações ao vivo.
O primeiro dos temas incluídos no disco "Velho Barco" (o mais longo, daí o facto de o E.P. ter apenas 3 temas e não quatro como, por lapso, foi escrito no texto da contracapa) foi, aliás, a canção pela qual Isilda Maria receberia o prémio de interpretação no 9.º Festival da Canção de Luanda de 1967, no qual cantou acompanhada pelo Conjunto de Renato Silva, à semelhança do segundo tema “Nem Sol, nem Lua”, também uma gravação ao vivo.


Isilda Maria, galardoada em 1967, com o artista Artur Rodrigues
Apesar daqueles dois registos musicais mais modernos, é a adaptação do popular fado Meia Noite para "Fado das Perguntas" cantado por Isilda Maria que mais nos chamou a atenção, pelo facto de a sua letra ironicamente ao ser apreciada em momento posterior à sua morte adquirir contornos de alguma fatalidade. Ou seja, as interrogações que canta Isilda Maria e as perguntas à Vida e à Morte que a própria canta, infelizmente, para quem as ouve já tiveram a sua resposta.
Este disco trata-se de uma edição particular e não comercial, cuja distribuição terá sido feita em quantidades muito limitadas. Para além de todas as particularidades que rodeiam este disco, destacamos ainda o facto de o nosso exemplar conter uma dedicatória muito possivelmente assinada pelos pais da malograda artista (“Lembrança da nossa saudosa filha”) facto que reforça ainda mais a raridade e o carácter familiar da distribuição deste disco.
Clique no Play para ouvir um excerto do disco
Isilda Maria
1. Velho Barco (Helena Moreira Viana/ Manuel Viana)
2. Nem Sol nem Lua (Nóbrega e Sousa/ David Mourão Ferreira)
ac. Conjunto Renato Silva
3. Fado das perguntas (Fado Meia Noite/ Gabriel Duarte)
ac. Luis Moreira (guitarra) e Humberto Andrade (viola)
Edição Particular não comercial

Balada do Entardecer - Coimbra

O disco que apresentamos hoje é, acima de tudo, uma peça de grande valor filatélico. Parece estranho, não é? Vamos esclarecer: a filatelia, numa definição muito abreviada, traduz-se no passatempo de colecionar selos e todos os seus derivados, nomeadamente carimbos (carimbologia) cartas antigas (pré-filatelia), postais, entre outras coisas intimamente ligadas à circulação de correspondência as quais, com o decorrer dos tempos, se transformaram em coleccionismo. No entanto, não iremos entrar muito por esse campo (no qual somos também entendidos), cabendo-nos apenas partilhar consigo um interessante lote adquirido num leilão filatélico, que tem a dupla particularidade de ser simultaneamente um objecto de colecção para os filatelistas (em particular aqueles que coleccionam inteiros postais) e para os amantes do vinil. Falamos de um POSTALDISCO, que conforme a aglutinação de palavras assim o indica, tem a particularidade de ser simultaneamente um postal e um disco.
Efectivamente, na frente do postal, encontramos reproduzida uma foto da cidade de Coimbra vista desde o rio Mondego e também o espaço destinado à leitura do disco, de 78 rotações. No verso do postal, para além do espaço destinado à colocação do selo, do destinatário e texto a escrever, encontramos também a descrição da canção contida na face do postaldisco. Como seria natural, a musica que acompanhava o postal teria que ser um fado ou uma guitarrada de Coimbra, neste caso específico, a Balada de Entardecer da grande referência da canção Coimbrã, Fernando Machado Soares.
Apesar dos anteriores considerandos, arriscamos ser unânime em reconhecer que o grande interesse deste disco era o facto de permitir ao turista de Coimbra a grande possibilidade de poder enviar a alguém, através de um único objecto, um postal que tinha impresso na sua frente um disco. Ou seja, permitia-se assim o envio de um disco, que ao mesmo tempo é um postal e um postal que ao mesmo tempo é um disco. Sem recorrermos a um grande esforço podemos imaginar o prazer do destinatário do postal quando o mesmo recebesse em sua casa este postal com os seguintes dizeres “Olá. Passei pela bela cidade de Coimbra e decidi enviar-te uma música para tu ouvires.”
Clique no Play para ouvir a "Balada do entardecer"
Este postaldisco é um edição da Rádio Triunfo, tendo sido a canção Balada do Entardecer extraída do disco Alvorada MEP 60109 ("Fados e Guitarradas de Coimbra") de 1958.