Confessamos
que o texto sobre a artista que hoje trazemos à memória não
estava, pelo menos para já, dentro das nossas cogitações
imediatas. No entanto, um episódio que tem tanto de insólito como
de lamentável, apressou-nos a escrever com urgência um texto sobre
a artista brasileira Maria Helena, que durante alguns anos fez
sucesso em Portugal, país que, aliás, sempre a tratou como se de
uma verdadeira portuguesa se tratasse.
Conforme
já referimos, Maria Helena era brasileira. Nasceu nos anos 40 , no
estado de S. Paulo, no seio de uma família de alta aristocracia
brasileira. Seus pais, empresários de profissão, incentivaram-na a
tirar um curso de letras no Brasil. No entanto e contra a vontade da
família, Maria Helena sempre quis ingressar no mundo do espectáculo,
ansiando ser cançonetista, embora nunca tivesse tido aulas de canto
para o efeito, tendo apenas tirado um curso de piano. Como que
renunciasse a toda a vida abastada que os seus pais lhe poderiam
oferecer, Maria Helena, já nos meandros da vida artística e
integrada num conjunto local brasileiro (cujo nome não conseguimos
apurar mas que tinha como elemento o pianista Robledo, que tocou com
Agostinho dos Santos), teve a oportunidade de um dia vir a Lisboa em
inícios dos anos 60 com o seu conjunto a fim de cumprir um contrato
num cabaret lisboeta. Terá sido, portanto, nessa altura que Maria
Helena veio a Portugal pela primeira vez, sempre contra a vontade da sua
família. Uma outra versão sobre a primeira estadia de Maria Helena
em Portugal existe ainda, que é a que temos lido em algumas revistas
da época, referindo que Maria Helena terá vindo a Portugal como
simples turista e que por cá ficou, após terem descoberto a sua voz
por mero acaso. No entanto, parece-nos, pela análise da (escassa)
"documentação" que temos sobre esta artista, que esta
segunda versão não passará de um resumo romanciado e fantasiado
sobre vinda de Maria Helena a Portugal pela primeira vez.
De facto, o que podemos assegurar é que a sua vinda a Portugal,
coincidiu o convite daquele conjunto brasileiro, que a descobrira
poucos dias antes no Brasil e que poucos dias depois a convidara para
seguir em digressão com eles para a Europa e nomeadamente para
Portugal.
Capa do disco de Maria Helena
Segundo
rezam as crónicas, a especial relação de Maria Helena com Portugal
(e com Lisboa em particular) iniciou-se aquando dessa visita, altura
em que ficou encantada com o nosso país, por aqui tendo ficado depois dessa
actuação, dado o reconhecimento que a sua voz teve em diversos
pontos do país e junto dos promotores e agentes artísticos
portugueses. Na verdade, semanas depois estreava-se em Lisboa, no
Maxime e pouco tempo depois surgiram convites para actuar em
Barcelona, em Madrid e na Televisão Espanhola.
A carreira
artística de Maria Helena em Portugal corria a um ritmo desenfreado,
tendo sido transformada pelos portugueses numa verdadeira vedeta. Fez
teatro, revistas e participou no filme "Pão, amor e totobola",
tendo aliás gravado canções para esse filme, juntamente com Zeca
do Rock. Em Maio de 1963, cedendo à vontade dos pais, parte para o
Brasil, abandonando o teatro de revista, regressando com eles ao
Brasil. No entanto, como o sangue que lhe corria nas veias era o da
vida artística, voltaria meses mais tarde, para actuar
temporariamente no Casino Estoril, para depois seguir imediatamente
para Espanha. Em Janeiro de 1965, encontrava-se em Moçambique,
actuando na boîte "A Cave", altura em que regressou a
Portugal para gravar um disco, antes de seguir para a Venezuela,
tendo percorrido ainda toda a então África Portuguesa e a então
União Sul Africana em pouco mais de dois anos. Durante parte do ano
de 1966, já regressada a Portugal, actuou no Teatro Maria Vitória,
marcando o início da sua afirmação como vedeta do teatro de
Lisboa.
Pese
embora Maria Helena viesse a ser mais reconhecida em Portugal pela
sua interpretação em teatro de revistas, cremos que o seu momento
alto aconteceu quando, participou, representando Portugal, em Aranda
do Douro, no Festival Hispano-Portugues da canção do Douro, de
1960. Aliás, foi mesmo ela que criou a canção "Meu
rio Douro"
(Canção tema do Festival desde a sua 1.ª edição), tendo ficado
em primeiro lugar, facto que nunca acontecera antes com qualquer
representante português.
E sobre a
vida de Maria Helena, pouco mais sabemos. No entanto, quando por mero
acaso desfolhávamos uma revista Plateia de finais de 1968, reparámos
na triste notícia então relatada acerca do seu prematuro
falecimento num Hospital de Madrid, após 7 meses de internamento
numa dura batalha contra um cancro. A referida notícia, cujo recorte acima aqui deixamos, vinha acompanhada da respectiva foto de Maria
Helena, não deixando margem para dúvidas: Maria Helena, segundo a
revista Plateia, falecera (tal como a malograda Marina Neves) no
auge da sua carreira, muito nova, vítima de uma grave enfermidade.
Notícia do falecimento de Maria Helena, em 1968
Maria Helena em Portugal, nos anos 70 (cortesia palcoumblogspot.com)
Da nossa
parte, e após análise da fotografia "postada" naquele
blogue, não temos dúvidas em afirmar que se trata efectivamente da
mesma Maria Helena e que, felizmente, a mesma não falecera uma
década antes, vítima de cancro. Aliás, gostaríamos de esclarecer
os nossos leitores que a nossa tarefa de recolha de informação
sobre estes artistas privilegia a mais rigorosa informação
possível, sendo certo que, devido à nossa idade, a única
informação de que nos munimos é a da imprensa da época, ou então
dos próprios artistas quando com eles mantemos alguma espécie de
contacto. Sendo assim, jamais nos poderemos responsabilizar pela
informação que retiramos das revistas que lemos se tal informação
estiver completamente errada. De facto, já por diversas vezes Eunice
Muñoz foi dada como morta pela nossa imprensa e bem recentemente
Camilo de Oliveira (ou até o famoso Bon Jovi !) , sendo que todos
eles se encontram bem e com saúde. Lamentamos profundamente que a
imprensa não seja muito rigorosa e não se acautele devidamente na
hora de lançar tão tristes e sérias notícias.
Cumpre-nos
hoje tentar desvendar e esclarecer esse insólito equívoco sobre a
vida de Maria Helena. No entanto, gostaríamos também de saber sobre
o paradeiro actual de Maria Helena e sobre o seu percurso desde os
anos 70 até à presente data, do qual quase nenhuma informação
conhecemos.
Retribuindo,
dedicamos também esta mensagem ao responsável pela manutenção do
blogue "palcoum" (e de outros tantos mais) e que muito tem feito para
preservar a memória dos nossos maiores artistas, nomeadamente na
área do teatro e do espectáculo em geral.
Deixamos para os nossos leitores, dois temas cantados por Maria Helena, acompanhada pela orquestra de Ferrer Trindade, com destaque para "Com sete letras se escreve saudade" numa interpretação sentida, na qual Maria Helena encarna com perfeição esse sentimento único português, que se chama saudade.
Clique no Play para ouvir um excerto das canções
Maria Helena
Alvorada AEP60467
A1 - Fantasma do amor (Ferrer Trindade / José Correia)
A2 - Com sete letras se escreve saudade (Ferrer Trindade / Anibal da Nazaré)
B1 - Ninguém é de ninguém (Umberto Silva-Toso Gomes / Luis Mergulhão)
B2 - Custou dizer adeus (Costa Pinto / José Correia)
9 comentários:
A net tem esta coisa boa de podermos desfazer equivocos
Muito obrigado por este bonito texto e pelas suas palavras ao meu trabalho
Esperemos que a Maria Helena ainda esteja entre nós
Um abraço
Quando li o texto (por alto) associei logo a outro sobre o festival de Aranda em http://www.historia.com.pt/vinyl/txt/Aranda.htm
Foi mesmo o primeiro festival de Aranda por isso há uma pequena incorreção no texto pois não poderia ter sido vencido por qualquer português.
Noutro blog reparei que falava da capa de um dos discos da série "Portugal Deluxe". Nesse blog referia que já tinha visto imagens da mesma sessão fotográfica noutros discos. Poderá indicar o nome de alguns desses discos? No outro dos discos da série tem uma capa do Thilo's Combo.
Boa tarde, o outro disco com a mesma sessão fotográfica é do Agnaldo Timóteo.
Maria Helena está viva. Ela é minha tia. Reside na cidade de Caraguatatuba, litoral norte de SP, hoje com 79 anos.
Maria Helena está viva. Ela é minha tia. Reside na cidade de Caraguatatuba, litoral norte de SP, hoje com 79 anos.
Nome completo dela é Maria Helena Machado Guimarães.
Boa noite.
A pouco tempo tive o privilégio de conhecer a Maria Helena Machado Guimarães.
Toma café todo dia no estabelecimento um amor de pessoa.
Maravilhosa linda pessoa
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