segunda-feira, 25 de abril de 2011

O 25 de Abril de 1974 - Conjunto Típico Francisco de Sousa

Quem pense que por estarmos a celebrar mais um aniversário do 25 de Abril de 1974, teríamos que escolher forçosamente uma canção de um cantautor/baladeiro dos anos 70 (preferencialmente ex-exilado em França) para ilustramos musicalmente este dia está muito enganado. Isto porque a canção de protesto, tal como nós a gostamos de dividir, teve duas fases bem distintas (quanto a nós, de interesse quase idêntico): a canção de intervenção pré-25 de Abril e a canção de protesto no imediato pós 25 de Abril, resultante da proliferação de mensagens políticas em tudo o quanto era canção, quase todas elas associadas (senão mesmo ao serviço) de partidos de esquerda.
Desse modo, estilos musicais tradicionalmente associados ao sectarismo do Estado Novo, como o fado e a música popular (nomeadamente através dos conjuntos típicos) passaram também eles a cantar os valores da liberdade e da democracia que o 25 de Abril de 1974 apregoou para Portugal. Artur Gonçalves (fado humorístico), Conjunto Típico Esperança (conjuntos típicos) e Januário Trindade (fado) são alguns dos exemplos associados a essa vertente da música de intervenção pós 25 de Abril a qual, em bom rigor, só se dizimaria com o surgimento em massa dos grupos de rock português e dos bailes de liceu, que depressa substituíram o protagonismo radiofónico dos cantores de Abril.


Para ilustrar esse fenómeno escolhemos a canção "O 25 de Abril de 1974" composta por Francisco de Sousa para o seu Conjunto Típico, tendo como solista Fernando Pereira. Trata-se, com efeito, de um disco que contém todas as características presentes nos discos de conjuntos típicos lançados com mensagem política a seguir ao 25 de Abril. Concretizando: na sua maioria eram lançados em formato E.P. (com quatro canções) sendo que dessas quatro composições, geralmente apenas uma tinha um conteúdo político, quase sempre o tema que dava título à capa do disco. As restantes canções continuavam a seguir, na linha "típica" de tais conjuntos a sátira aos desgostos de amor, as temáticas religiosas e, sobretudo, a apologia das tradições das diversas regiões do nosso país, através dos seus bailes e romarias. Nada mais correcta, a nosso ver, tal orientação, não fosse a opção por um caminho radicalmente inverso desvirtuar por completo o papel que os conjuntos típicos sempre tiveram na sociedade e costumes.
Nesta canção e da análise da sua letra resulta a curiosidade que a mesma terá sido escrita apenas dois meses após a Revolução dos Cravos, embora o disco apenas tenha sido lançado para o mercado em 1975. No entanto, a letra manteve-se inalterada, sem qualquer referência ao período conturbado que se viveu em Portugal imediatamente a seguir à Revolução. Dessa forma, a canção "O 25 de Abril de 1974", acaba por ser um testemunho politicamente apartidário, gravada num registo naturalmente alegre, como é costume no género musical sobre o qual nos debruçamos.
Acresce ainda, para finalizarmos, uma referência à sugestiva capa do disco, com um cravo estampado sobre um fundo vermelho, com um sugestivo título de Abril de 1974.



RODA RPE 1374
A) O Abril de 1974/ Briga de amor
B) Jamais te posso esquecer/ Tenho saudades

Clique no Play para ouvir um excerto da canção

5 comentários:

Edward Soja disse...

Uau!

Até tem bateria. E guitarra eléctrica! Isso é que não é habitual num conjunto típico.

Olá,
hei-de passar por aqui para saber das novidades.

Obrigado pelo blogue.

Edward Soja disse...

Somos uma comunidade.
:)

bairro do vinil - JPAR disse...

Caro Eduardo,

Obrigado pelas suas mensagens. Dão-nos força para continuar. Um abraço JP

vinilsuporter disse...

Por favor seria possivel saber a referência e o nome das 4 canções que fazem parte do disco ? obrigado

bairro do vinil - JPAR disse...

RODA RPE 1374
O Abril de 1974/ Briga de amor/ Jamais te posso esquecer/ Tenho saudades