José Sampaio. Nome desconhecido do actual universo musical português tem hoje, contudo, mais uma oportunidade de sobressair das sombras e da poeira do esquecimento, através de uma entrada directa para o nosso bairro do vinil. No entanto, cremos que tal oportunidade não lhe irá trazer o sucesso pretendido, isto porque, conforme analisaremos, as temáticas das canções presentes neste disco há muito que não transparecem a realidade portuguesa.
Do pouco que conseguimos apurar, pela análise da capa e da contracapa do disco que nos chegou às mãos, só podemos concluir tratar-se de um cantor emigrado em França (a julgar pela editora francesa Serenata que distribuía os discos, muito provavelmente para a comunidade portuguesa aí radicada), que terá gravado pelo menos mais de 12 discos , para além deste E.P. que agora se comenta (com acompanhamento musical por Jorge Fontes e Os Alegrias)
O que nos chamou a atenção deste cantor , não foi propriamente a sua voz rude de cantor campestre, nem o enquadramento sonoro que reveste as canções, uma vez que estamos apenas perante mais um cantor, entre centenas de outros, do folclore português. O que nos chamou a atenção foi, bem pelo contrário, os títulos das duas faixas que abrem cada uma das faces do vinil: “Adeus Guiné” e “A Mulher Portuguesa”, títulos que à primeira vista nos podem levar a pensar estarmos, por um lado, perante uma canção de intervenção contra a guerra colonial e, por outro lado, uma canção de homenagem de homenagem à mulher lusitana.
Do pouco que conseguimos apurar, pela análise da capa e da contracapa do disco que nos chegou às mãos, só podemos concluir tratar-se de um cantor emigrado em França (a julgar pela editora francesa Serenata que distribuía os discos, muito provavelmente para a comunidade portuguesa aí radicada), que terá gravado pelo menos mais de 12 discos , para além deste E.P. que agora se comenta (com acompanhamento musical por Jorge Fontes e Os Alegrias)
O que nos chamou a atenção deste cantor , não foi propriamente a sua voz rude de cantor campestre, nem o enquadramento sonoro que reveste as canções, uma vez que estamos apenas perante mais um cantor, entre centenas de outros, do folclore português. O que nos chamou a atenção foi, bem pelo contrário, os títulos das duas faixas que abrem cada uma das faces do vinil: “Adeus Guiné” e “A Mulher Portuguesa”, títulos que à primeira vista nos podem levar a pensar estarmos, por um lado, perante uma canção de intervenção contra a guerra colonial e, por outro lado, uma canção de homenagem de homenagem à mulher lusitana.
Se é verdade que elaboramos este texto passados garantidamente mais de 30 anos sobre a gravação deste disco, não podemos deixar de reparar no contracenso, à luz dos dias de hoje, entre os títulos das canções e as respectivas letras. De facto, “Adeus Guiné” nada mais é do que um apelo à guerra, sob o pretexto de defesa daquilo que na altura era um território português. Aliás, os versos explícitos da sua autoria, tendo como pano de fundo efeitos sonoros de metralhadoras, são conclusivos : “Só esta pequena lembrança dos emigrantes de França, estamos prontos a lutar, amor cego e imortal é nosso dever a Guiné defender, será sempre Portugal”. Sem dúvida que, se atendermos ao facto, de nessa altura, serem mais do que recorrentes os cânticos anti-guerra e anti- regime, corporizados no chamado canto de intervenção, este disco só poderá ser visto como a metáfora do outro lado da barricada, ou seja, uma espécie de canto de anti-intervenção.
Da mesma forma, ao mesmo tempo que o cântico de apelo à libertação da condição social das mulheres se fazia sentir por toda a Europa e em especial em Portugal (entre outros, por José Barata Moura), José Sampaio através de “A mulher portuguesa”, apresenta-nos, mais do que a sua visão, a própria visão e concepção da condição da mulher durante o Estado Novo. Sem dúvida, que José Sampaio elogia a mulher portuguesa, não a tratando mal, bem pelo contrário, até admite que “se não fossem as mulheres, o homem não tinha razão”. No entanto, uma análise sociológica mais atenta da letra desta canção, leva-nos à conclusão de estarmos perante o contracenso do próprio elogio, uma vez que ao mesmo tempo que se destacam as qualidades de “boa companheira e mulher trabalhadeira”, simultaneamente, se está a dar enfâse, na mesma canção, ao papel dominante do homem, sempre triunfante fora do lar, ao contrário da mulher reduzida a à condição de dona de casa. Versos mais explícitos do que estes são impossíveis de encontrar nos tempos modernos : “Português emigrante, homem triunfante da mulher portuguesa, a sua mulher poupada fica sempre em casa e não sente tristeza”. Ora, quem é a mulher portuguesa que ao ouvir esta canção não se encherá de orgulho e emoção, por este tão rasgado elogio ?
Da mesma forma, ao mesmo tempo que o cântico de apelo à libertação da condição social das mulheres se fazia sentir por toda a Europa e em especial em Portugal (entre outros, por José Barata Moura), José Sampaio através de “A mulher portuguesa”, apresenta-nos, mais do que a sua visão, a própria visão e concepção da condição da mulher durante o Estado Novo. Sem dúvida, que José Sampaio elogia a mulher portuguesa, não a tratando mal, bem pelo contrário, até admite que “se não fossem as mulheres, o homem não tinha razão”. No entanto, uma análise sociológica mais atenta da letra desta canção, leva-nos à conclusão de estarmos perante o contracenso do próprio elogio, uma vez que ao mesmo tempo que se destacam as qualidades de “boa companheira e mulher trabalhadeira”, simultaneamente, se está a dar enfâse, na mesma canção, ao papel dominante do homem, sempre triunfante fora do lar, ao contrário da mulher reduzida a à condição de dona de casa. Versos mais explícitos do que estes são impossíveis de encontrar nos tempos modernos : “Português emigrante, homem triunfante da mulher portuguesa, a sua mulher poupada fica sempre em casa e não sente tristeza”. Ora, quem é a mulher portuguesa que ao ouvir esta canção não se encherá de orgulho e emoção, por este tão rasgado elogio ?
Clique no Play para ouvir um excerto das duas canções
1 comentário:
Tenho uns poucos discos do José Sampaio que a minha tia (emigrada em frança desde os anos 60) me deu há uns anos. Ainda os guardo com muito carinho!
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