quinta-feira, 17 de maio de 2012

Os Camaradas - Quem trabalha é que deve mandar

Quando há poucas semanas atrás publicámos no Bairro do Vinil um texto sobre o músico Tino Flores, tínhamos já em mente colocar imediatamente a seguir uma mensagem sobre um desconhecido e misterioso agrupamento musical denominado de "Os Camaradas", tendo por única referência um disco que adquirimos juntamente com o disco de Tino Flores e com outros discos de intervenção. Curiosamente, os comentários que emergiram após a publicação daquele texto precipitaram a publicação desta mensagem em cumprimento de uma espécie de dever e de compromisso para com os leitores, levantando um pouco do véu sobre esse misterioso agrupamento, do qual pouca ou nenhuma informação se sabe.
De facto, sobre "Os Camaradas" não conseguimos recolher qualquer informação, pelo menos até ao momento. Desde logo, a própria componente editorial do disco (à semelhança dos discos de Tino Flores) remete-nos igualmente para a ideia de tratar-se de edição de autor. Inclinámo-nos para esta tese, após observarmos com atenção o label do disco, no qual apenas constam o nome das músicas e a referência "OSC 2", sem qualquer referência a editoras ou "patrocinadores" do disco. Supomos também tratar-se do segundo disco deste agrupamento.
Por outro lado, o disco que adquirimos não tem qualquer informação na contracapa e embora a sua capa seja coloridamente apelativa (com cores vermelhas, pois claro) nenhuma informação dele podermos retirar. No entanto, desde logo ficámos com a ideia de que o disco dos Camaradas teria sido lançado em simultâneo ou então num período temporal muito próximo do disco de Tino Flores anteriormente apresentado pelo facto de os labels dos discos serem exactamente iguais, com o mesmo grafismo e igualmente editados em França. Tal constatação, remete-nos imediatamente para o campo das suposições, acreditando que o próprio Tino Flores poderá ter participado, de alguma forma, na produção deste disco. Na verdade podemos até ouvir numa das canções uma harmónica, à semelhança do disco de Tino Flores, onde também podemos encontrar igualmente a mesma sonoridade em algumas canções.
Facto que demos por assente à primeira audição é que não é Tino Flores que canta neste disco, pelo menos enquanto solista. Com efeito, as vozes dos intérpretes dos dois discos são manifestamente distintas. A identidade do vocalista dos Camaradas permanecerá um mistério que pretendemos desvendar com ajuda de todos aqueles que lerem este texto. Da composição do grupo, temos apenas a informação de que o músico Adão Gonçalves integrou-o em 1973, segundo informação colocada no Bairro do Vinil por um comentador geralmente muito bem informado.

Capa do E.P. "Os Camaradas" OSC 2

Confessamos que a nossa maior dificuldade prendou-se com o facto de permanecerem (mesmo após várias audições dos 4 temas que compõem este disco) algumas dúvidas sobre se o disco terá tido edição pré ou pós 25 de Abril. Sobre este aspecto, à primeira vista tudo indicaria tratar-se de um disco pré-25 de Abril, atendendo ao facto de o label do disco, conforme já referimos, ser igual ao do disco do Tino Flores e daí podermos eventualmente retirar a conclusão de ter sido editado em 1972 ou em 1973 (tendo por referência o período em que Adão Gonçalves integrou o grupo). É que as letras das canções, embora se tratem igualmente de músicas de conteúdo directo e sem floreados, têm um carácter dúbio ao ponto de poderem ser facilmente inseridas em qualquer um dos períodos acima referidos, isto tanto antes tanto depois do 25 de Abril. No entanto, arriscamos tratar-se de um disco já editado no pós 25 de Abril. Na verdade, através dele conseguimos vislumbrar algumas reminiscências do período conturbado dos primeiros meses imediatamente após a revolução dos cravos. Referências pontuais a pequenas liberdades, à repetição da palavra democracia inserida no contexto de governos pós salazaristas e nenhuma referência a qualquer primavera Marcelista colocam-nos numa quase certeza de tratar-se já de um disco editado em finais de 1974 ou inícios de 1975. O primeiro tema do E.P. "Quem trabalha é que deve mandar", a nosso ver desfaz qualquer dúvida. Contudo, sobre esta matéria, iremos deixar o espaço aos leitores para darem as suas opiniões para, daqui a umas semanas, refazermos o texto de hoje com informação já actualizada. 




Clique no Play para ouvir um excerto de "Os Camaradas"

Lado A) Quem trabalha é que deve mandar/ Democracia
Lado B ) Lá vai o comboio/ Ora vai, vai vai

6 comentários:

Unknown disse...

"Os Camaradas" foi um grupo formado em 1973 em França, que contava com a participação do Tino Flores, e este disco foi gravado na altura, ou seja, antes do 25 de Abril. Creio que o grupo acabou antes do 25 de Abril.

vinilsuporter disse...

Boa tarde
Não se consegue arranjar aqui para o camarada uma cópia dessas 4 canções ? Posso intercambiar com outras músicas de intervenção entre elas algumas do próprio Tino Flores. obrigado
jose mario joebarbosa@sapo.pt

bairro do vinil - JPAR disse...

Boa tarde. Tem mesmo a certeza que as canções são de 1973 ? O disco não terá sido lançado depois ? Da análise da letra, parece-me ser do tempo do Verão quente de 1975...Qualquer informação será bem vinda. Obrigado

bairro do vinil - JPAR disse...

Caro José Mário, já nos conhecemos há algum tempo... esteja descansado.

O Arquivista disse...

Segundo informação do Tino Flores, os "Camaradas" foram um grupo informal, formado por algum pessoal da "malta" que estava junta em França e que participava em concertos para associações de emigrantes, e.o. Embora já não se recordasse de quem compunha o grupo ao certo, fala dele próprio, do "Motas" e de um Ângelo (que mais tarde viria de França para participar na gravação do "Isto só vai à porrada"). Segundo o Tino, este "pessoal" era quem o tinha já ajudado na gravação dos seus discos anteriores e também responsáveis pela edição (sem label, sem qualquer intervenção de editoras): "Viva a Revolução", "Organizado o Povo é Invencível" e "O Povo em armas esmagará a burguesia" e que terão sido gravados num pequeno estúdio de uma casa particular, com um gravador de 2 pistas. Tem ideia de haver uma gravação deste grupo antes do 25 de Abril ("por volta de 73, talvez"), mas refere igualmente que o grupo manteve-se em actividade em França ainda depois do 25 de Abril e já sem a sua participação. Daí, talvez possamos apontar este disco como uma gravação pós-25 de abril e como o segundo disco dos "Camaradas". Abraço

mario santos disse...

Meu caro arquivista

E então quando é que faz o favor de me arranjar a gravação deste disco do tino flores ?

um abraço

jose mario mariosantosf54@gmail.com