Tendo como principal mentor Pedro Osório, o Trio Barroco foi formado em 1968 juntamente com André Vilas Boas e Jean Sarbib, este último antigo companheiro de Pedro Osório no Quinteto Académico (um dos pioneiros grupos do rock português). Com um percurso éfemero no panorama musical português, o Trio Barroco na sua curta existência gravou apenas três E.P.s, com influências soul, jazz, funk e naturalmente o rock, ao qual de uma ou outra forma, todos os membros da banda estavam familiarizados.
Neste disco, destacam-se as participações dos músicos americanos Tyree Glenn Jr. (saxofone-flauta) e Van Dixon (trompete) que também assinam vocalmente três dos quatro temas presentes neste E.P. com particular destaque para a vivaz versão do famoso tema de Sam Cooke “Hold on I'm coming”.
No entanto, a particularidade maior deste disco é a excelente versão em inglês da canção vencedora do Festival da Canção de 1968 “Verão”, interpretada por Carlos Mendes e que, neste disco a eleva a uma versão digna de registo internacional.
Teria o Trio Barroco pretensões de se internacionalizar?... Tudo neste trabalho nos parece indicar nesse sentido - o uso da língua inglesa, a escolha dos temas, os músicos convidados, etc… No entanto, sobre essa possibilidade e pelo que dispomos, apenas podemos conjecturar. O que podemos sim afirmar é que, sem dúvida, esta era uma banda de grande qualidade musical e que tinha condições para se impor no mercado discográfico (pelo menos, no nacional) como uma alternativa ao “main-stream” povoado pelas bandas de Yé Yé.
Dada a conjuntura musical da época, o projecto Trio Barroco, acabou naturalmente por ter uma curta existência, deixando, contudo, um interessante legado na música nos finais da década de sessenta.
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Ao contrário de Manuel Alves, José Fernandes não seria analfabeto, pois ele próprio guardou durante anos os escritos que mais tarde serviriam de base à gravação dos 12 temas que constituiem o L.P. que hoje apresentamos. Efectivamente, o disco é preenchido com canções escritas entre 1934 e 1983, tematicamente nada surpreendentes face ao cognome que partilhava com Manuel Alves. Na verdade, as letras estão na sua grande maioria relacionadas com a Natureza, fazendo uma apologia ao orgulho da terra e das colheitas e à peculiar sabedoria que muitas vezes só as gentes do campo possuem devido precisamente a essa forte ligação entre a terra e a Mãe Natureza. Versos como "A minha casinha tem/ Uma vista confortável/ Dela tudo vejo bem/ Respirando um ar saudável" ou "Do campo é que vem/ o pão que todos comemos/ Do pão é que vem/ O vinho que nós bebemos/ E mesmo p'ra quem/ só p'la cidade suspira/ No campo é que tem/ ar puro que se respira", ilustram bem a realidade que José Fernandes quis realçar, quando aos 63 anos, gravou este disco. Gravado quase 100 anos depois de o outro Poeta Cavador ter cantado os seus fados em Coimbra, José Fernandes recorreu a um estilo musical bem diferente para dar forma aos seus versos, num registo bem mais popular, alegre, em clara homenagem à sua terra e às suas raízes, escondendo palavras de esperança e de exaltação aos trabalhadores do campo, segundo ele muitas vezes injustamente considerados rudes e mal-educados. Provavelmente terá sido este o único disco de José Fernandes, de edição de Autor, com sucesso diminuto em Portugal mas com largo reconhecimento na aldeia do Mucifal, onde o seu nome já é nome de Rua. Da nossa parte, deixamos aos ouvintes um excerto do disco deste Poeta Cavador, aliás, Poeta Cantador. 